terça-feira, 29 de novembro de 2011

cadê minha cueca?






Estou procurando a minha cueca preferida, aquela com elástico grosso, colorida como as outras, mas diferente, única como as demais. Eu deixei em algum lugar, mas esse lugar é aqui dentro do meu quarto, não saí daquilo com ela, ou melhor, saí, mas sempre voltei. Não pode ter sumido assim. Talvez esteja em meio a essa bagunça de ser quem eu não ando sendo.

[Pausa para revirar o quarto, a casa, o mundo]

Abre gavetas, tiro tudo dos armários e jogo tudo em cima da cama. Desdobra, espalha, redobra, guarda e nada; Encontro papéis, documentos, roupas esquecidas, recordações empoeiradas.

Não, eu não preciso mexer naquelas caixas antigas. Eu sei o que tem dentro e sei que a minha cueca não vai estar lá. Mas pensar nisso é a mesma coisa que mandar criança vigiar bandeja de brigadeiro na véspera da festa. Vai dar errado, a gente sabe, mas mesmo assim faz.

No velho baú escondido embaixo do móvel estão as lembranças mais antigas do que eu já fui, do que eu não posso e não quero ser, bem como os sentimentos guardados, quase uma caixa de Pandora de mim mesmo. Já não ouvia o barulho do mundo e decidi não abrir, não quis arriscar, fugi para não achar – melhor ficar longe do que conspira contra nós, e com razão. Aqui, ainda posso ficar escondido e salvo disso tudo.

Eu sei. Melhor assim. Melhor mesmo quando não faz parte de mim, quando eu to na esquina e o resto do mundo do outro lado da rua enxergando tudo. Mas, e aquela minha cueca, onde é que foi parar? Já que ninguém sabe, vamos colocar que ela está guardada na minha caixa de Pandora? Porque assim eu coloco um ponto final na procura e as coisas se acalmam, mesmo sem vê-la posso me conformar com a falta que ela faz. Ficamos combinados então, agora volta pro quarto e arrume aquela bagunça toda que ficou pra trás que enquanto isso a gente aproveita pra organizar as idéias também...



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