Eu preciso fazer uma confissão:
eu não fui sincero com você. Alias, não tenho sido. Mas isso não quer dizer que
as minhas palavras são falsas ou mentirosas. Não, elas não são. Eu só não disse
a verdade. Talvez a verdade é que eu tenha me omitido nas palavras, pois nos
gestos eles sempre foram os mais cristalinos possiveis.
Mas nesse ponto você há de convir
comigo que se eu me omiti em dizer, você se omitiu em perguntar também. Ambos
temos nossa parcela de culpa nessa história, eu mentindo pra mim que não é com
nisso que eu penso todos os dias quando acordo sacrificando uma parte de mim e
do outro lado, você mentindo pra si mesmo que debaixo do personagem não existe
uma pessoa real e que também se omite, de si, dos outros e do mundo.
São extremos, são contrários e de
tão antagônicos é que se completam. Mas como todos extremos também se repelem.
Preenchem uma parte, mas expurgam outra, talvez por medo da sincronicidade das
reações e sentimentos, embora o medo não seja melhor resposta ele é sempre uma
das justificativas mais utilizadas.
Falo da minha parte, dos meus
anseios, dos meus medos, dos meus sentimentos. Falo disso por experiência
própria, mas falo de você com a propriedade de quem conhece a ti mais do que
você gostaria as vezes. Mais do que o seu medo lhe permite que o restante do
mundo conheça.
Existe mais de uma maneira de se
enxergar a alma das pessoas. O grande problema e dificuldade em fazê-lo é que o
outro tem que, além de estar aberto e disposto a isso, é doar-se ao próximo,
dar mais de si do que receber em troca. E é aí que se encontra a dificuldade. O
mundo de hoje não se tem pessoas preparadas para doar-se ao outro. O mundo
prepara as pessoas para sugar o próximo e nada mais.
Já eu posso me vangloriar de ter essa disponibilidade com
certas pessoas com quem a minha afinidade exacerba o limite do explicável. Não
se define, apenas se sente o que a alma não delimita.
Eu tenho o canal aberto para enxergar o que as pessoas
deixam aberto para o mundo, não é um dom, é só uma questão de querer enxergar
aquilo que o outro evidencia, é uma situação latente.
Eu só me pergunto até que ponto
estamos sendo honestos com a gente, se omitimos, se disfarçamos, vestimos as
máscaras de nossos personagens “full time”
a ponto de não nos reconhecermos nas nossas próprias feições, talvez tenhamos
perdido nossas identidades para os personagens que criamos e que se alimenta da
nossa fraqueza, dos nosso medos mais profundos e nos consome aos poucos. O
Personagem vai se fundindo ao ator a ponto de não se desvincilhar mais.
É uma pergunta recorrente na minha mente. Aliada a uma série de fatores: Um dia a ficha vai cair?
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