domingo, 21 de novembro de 2010

Enquanto alguns corriam, ela só queria parar.


[...] Como quando a pessoa está cansada de saber da dor do dia seguinte mas insiste em congelar um dia. E saiu do carro com delicadeza e uma esperança infantil de eternizar segundos. [...] Três coisas facilitaram que ela achasse a vida muito divertida: o óculos escuro vagabundo que ela ganhou no casamento, as havaianas pra quando o pé cansasse e o fato de que a noite ia começar quando o dia já estava para nascer.  [...] Ela se transformava em personagem para enganar a vida chata e todas as suas imperfeições.  [...] E querer um pedaço da coberta mas não ter mais permissão para querer. E querer um abraço mas não ser mais permitido ganhar isso. [...] E querer ser vista mas não ser mais permitido existir. [...] E esperei sofrendo o momento em que ela se olharia no espelho e diria com os olhos borrados que sua ficha caiu. E esperei ela resgatar pelos cantos não íntimos, em silêncio e sem cúmplice, tudo o que era seu com medo de deixar algum rastro ou parecer boba.  [...] E ela finalmente saiu. Ela e seu sorriso triste novamente. Agora um pouco mais triste mas ainda assim iluminado. Ela e sua vontade de tomar banho quente e comer pão de queijo e voltar a ser apenas uma menina que sonha com alguém para se fazer isso junto, pela manhã [...] Ela e seus óculos de brinquedo para esconder de brinquedo uma emoção de brinquedo. Usando sua havaianas para uma alma cansada. Achando graça que o dia terminava justamente porque começava de novo. [...] Enquanto alguns corriam, ela só queria parar. Parar em algum braço, em algum abraço. Parar finalmente. E tomar o banho quente e comer pão de queijo. E ter abraços permitidos para sempre. [...] Achei aquilo lindo, achei que aquilo era a vida. E acabei dando finalmente o abraço eterno que ela tanto queria e que eu tanto queria. Ainda que se perdoar não melhore a solidão de ninguém.

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