“Ando assim,
descontínuo,
exaltado,
mas sempre
com carinho por você.”
[Caio Fernando Abreu]
"Foi nesse momento que também aproveitou o ensejo para dizer que lamentava que o filho dos Hubermann não tivessem ido para casa. Em resposta, Hans lhe disse que essas coisas fugiam ao controle deles.
— Afinal — comentou — você mesmo deve saber: um rapaz ainda é um menino, e os meninos às vezes têm o direito de ser teimosos."
.Acordei assustado de novo. Não sei bem o porquê, mas sinto que algo acontece naquele breve momento entre o sono e o despertar, quando a lembrança de um sonho se esvai como os últimos grãos de areia numa ampulheta. Um pensamento perturbador, um impulso elétrico que percorre minha mente e desce pela minha espinha deixando um rastro gélido. A respiração pára e todos os músculos do corpo se contraem, como se ouvisse um tiro me sendo disparado pelas costas. Então ele se vai, e tudo que fica é aquela sensação... Momentos depois e o dia começa, e tudo volta ao normal. Mas um eco sinistro permanece em minha cabeça, como uma pergunta importante que não entendo e, por isso, não consigo responder.
Já parou para perceber
que existe um conflito enorme
entre aquilo que você é
[...]Tô achando minha dor duvidosa, porque agora, por exemplo, não tenho dor nenhuma. E ele riu e disse que também não tinha dor nenhuma naquele momento. E quando ele riu, eu percebi. Eu percebi que eu estava na merda. Porque adoro esses caras que dão risada com a cara inteira mas continuam com os olhos um pouco tristes e parados. E adoro que a ressaca dele não permitia muita emoção e por isso ele fechava um pouco os olhos e ficava quietinho. É impressionante como eu não gosto de ninguém mas, de vez em quando, escapa um momento, um gesto, uma pessoa perdida e linda e única. E eu fico nessa felicidade de ser uma pessoa boa e capaz dessas coisas boas.[...]É isso que eu faço, baby. Eu imagino tudo. A sua profissão é escrever para os outros imaginarem, a minha é imaginar para eu escrever.[...]
Para atravessar agosto é preciso antes de mais nada paciência e fé. Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau; fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro - e também certa não-fé, para não ligar a mínima às negras lendas deste mês de cachorro louco. É preciso quem sabe ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data. Então dizer mentalmente ah!, escrever tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente. Este é um ponto importante: ir, sobretudo, em frente.
Para atravessar agosto também é necessário reaprender a DORMIR, DORMIR MUITO, com gosto,sem comprimidos, de preferência também sem sonhos. São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons, deixam a vontade impossível de morar neles, se maus, fica a suspeita de sinistros angúrios, premonições. Armazenar víveres, como às vésperas de um furacão anunciado, mas víveres espirituais, intelectuais, e sem muito critério de qualidade. Muitos vídeos de chanchadas da Atlântida a Bergman; muitos CDs, de Mozarta Sula Miranda; muitos livros, de Nietzche aSidney Sheldon. Controle remoto na mão e dezenas de canais a cabo ajudam bem: qualquer problema, real ou não, dê um zap na telinha e filosoficamente considere, vagamente onipotente, que isso também passará. Zaps mentais, emocionais, psicológicos, não só eletrônicos, são fundamentais para atravessar agostos. Claro que falo em agostos burgueses, de médio ou alto poder aquisitivo. Não me critiquem por isso, angústias agostianas são mesmo coisa de gente assim, meio fresca que nem nós. Para quem toma trem de subúrbio às cinco da manhã todo dia, pouca diferença faz abril, dezembro ou, justamente, agosto. Angústia agostiana é coisa cultural, sim. E econômica. Mas pobres ou ricos, há conselhos - ou precauções - úteis a todos. (...)
Para atravessar agosto TER UM AMOR SERIA IMPORTANTE, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu - sem o menor pudor, INVENTE UM. Pode ser Natália Lage, Antonio Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o seu dentista. Remoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancún ou Miami, ao gosto do freguês. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros, juras, projetos, abraços no convés à lua cheia, brilhos na costa ao longe. E beijos, muitos. Bem molhados.
Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, NÃO DISCUTIR, NEM VINGAR-SE, e temperar tudo isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína, se a barra pesar, vinhos, conhaques - tudo isso ajuda a atravessar AGOSTO. CONTROLAR O EXCESSO DE INFORMAÇÕES PARA QUE AS DESGRAÇAS SOCIAIS OU PESSOAIS NÃO DÊEM A IMPRESSÃO DE SEREM MAIORES DO QUE SÃO. Esquecer o Zaire , a ex-Iugoslávia, passar por cima das páginas policiais. Aprender decoração, jardinagem, ikebana, a arte das bandejas de asas de borboletas – coisas assim são eficientíssimas, POUCO ME IMPORTA SER ACUSADO DE ALIENAÇÃO. É isso mesmo, EVASÃO, ESCAPISMOS, EXPLÍCITOS.
Mas para atravessar agosto, PENSEI AGORA, é preciso principalmente não se deter demais no tema. Mudar de assunto, digitar rápido o PONTO FINAL, sinto muito perdoe o mau jeito, assim, veja, BRUTO E SECO;
Nós aprendemos na marra que devemos usar esta palavra mais frequentemente; Quem aceita tudo que pedem, tem a fama de bonzinho da turma, mas também a de bobo;
Dizer 'não' e recusar é uma arte que leva uma vida inteira para ser aprendida e aperfeiçoada. Uma arte que precisa ser cultivada o tempo todo, pois nunca desaparece o risco de que possamos cair em tentação, fraquejar diante do canto da sereia e dizer sim, quando na verdade desejaríamos dizer não.
Vá,
mas volte...
Siga seu caminho, mas que a estrada te traga de volta;
Sempre!
Porque saudade, é tudo que sinto.
É tudo o que sei sentir.
Lembranças, não tenho, não existo, não resisto.
Tudo parece nublado.
Meus olhos não focam nada, tudo passa muito rápido.
Beijos, nem sinto o gosto, só uma longa vontade de me afogar.
Digo adeus, peço a deus o que não credito conseguir.
Penso horas e não imagino nada.
Vago...
Vago é tudo que penso.
Não sei...
Eu quero...
Não sei...
Me abrace e me faça querer...
Me ajudem, me agarrem, me socorram.
Deixe-me beber e me soltem...
Grite!!
Escute tudo aquilo que falo, e o que eu calo;
Sinta, olhe os sorrisos ao redor.
Vire-se e sinta a musica...Não... !!
Não, tente me impressionar...
Divirta-se e não caia.
Relaxe!
Deixe a música te levar...